Do fundo

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Este algo que sou cá, contigo, é incerto
Não sei quem sou — e até prefiro assim
Na luz do amor, até esqueço de mim
Agora estou para ti, sempre por perto.

O tempo vira amigo e juiz de paz
Sua prece: apreciar mais que o primeiro
Sorriso, cheiro, voz… caro ponteiro!
Conheço-a tanto! E sempre quero mais.

E mesmo a cada olhar que nunca vi,
Teu mar de mil mistérios me tortura
Afoga-me de novo, criatura!
Minha pérola do peito já é de ti.

Tal vida, aqui registro — e que se leia
Dedico a decifrar uma sereia.

– – –
Você pode ouvir o poema recitado aqui, por mim.

Anjinho

Desculpa, mãe, pai e gente querida
Preciso seguir; aqui, não sou mais.
O meu tempo já foi; agora, em paz,
Agradeço a vocês por minha vida.

Entre mil petiscos e correrias
Sessões de carinhos no sofá…
“Coça aqui! Tá gostoso! Também lá!”
Levarei para sempre nossos dias.

Olho para trás, mas sigo o caminho
No ar, deixo meu uivo mais profundo:
“Vocês são meu amor maior do mundo!”
Sorrio e subo ao céu dos cachorrinhos.

Purgatório

purgatorium

Não me deixa, por favor
Quando eu me basto é tão triste!
Resta-me o vício da dor
Se você fizer que insiste.

Sombra — velha companhia
Mas, parceira que não é;
Injeta noite no dia
Enforca o pouco de fé

No que parimos nós dois
Quatro letras renascidas:
Nosso antes quer depois
E muito além desta vida.

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Você pode ouvir o poema recitado aqui, por mim.

Consumidos

Consumidos

“Segredo de nada, de fato, não dói”
Dizem dois amantes mentirosos
No entanto, se nada não foi,
Se solo não houve
E sim, dois
Se sal foi trocado
Por par; então, estes lábios
Aprisionarão, para além da vida,
Verdades vermelhas nascidas mortas.

 

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Você pode ouvir o poema recitado aqui, por mim.

Propósito

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Uns acham moeda
No acaso escuro
De um fundo de gaveta:
Fortuna mundana.

Outros enxergam
Placebos de paz
Em templos tantos:
Felizes fantasmas.

Quero-me mais
Sorrisos sinceros
E fome por verdade:
Ambição ambivalente.

Mas encontro minha vida
Nas notas cantadas
Por pernas abertas
(Outrora, fechadas)
Da mulher que amo.

– – –
Você pode ouvir o poema recitado aqui, por mim.

 

Ampulheta-fêmea

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A coisa mais linda do mundo
É uma ampulheta feminina
Sambando sem samba à sua frente:
Abelha-princesa distraída
Na valsa da vida.

Remexe pra esquerda, mulher…
E sorrio junto com teu corpo.
Moça, é hora da direita!
Fecha este pêndulo da beleza,
Que ela precisa de ti

Embora não tanto quanto eu:
Quero todos os teus lados,
Dentro e fora,
Hoje e amanhã.

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Você pode ouvir o poema recitado aqui, por mim.

Sinuosa

sinuosa

Antes de sua exponencial maciez,
(Agora, minha)
Nunca conheci conforto igual:
Virei inquilino de suas curvas.

Estatisticamente improváveis,
Seus ângulos se tornam, todo dia,
Eternamente irresponsáveis
Por aqueles que seduzem.

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Você pode ouvir o poema recitado aqui, por mim.

Aridez

arid love by NG-cRoniK

“arid love”, por NG-cRoniK

Mesmo o mais alcoolizado humor
Só respinga o deserto cinza
Que é tentar amar na cidade.

Promessas movediças desenham na areia
Mil e um grãos de “para sempre”,
Todos eles (e elas), por fim, desmanchados.

Resta a bomba-relógio tragável
De vários vícios vingativos:
Eis a poluição em nossas veias.

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Você pode ouvir o poema recitado aqui, por mim.

Cardápio

Cardápio

Quantas possibilidades!
Esse mundo de fartura,
Com sua cultura de muitos,

Desejos que mastigam carnes,
Carnes que digerem sonhos:
Fica a indigestão da alma.

Opções demais, tão somente,
Mordiscam goles de romance
E vomitam mais opções.

– – –
Você pode ouvir o poema recitado aqui, por mim.

Por acaso

Poracaso1

Entre tantos números,
Meu código binário
Casou com o teu:
Um par que começa
No frio toque das teclas.

Hoje, tentar mesmo amar
É meio zero ou um
Tal que tudo ou nada;
Ignorar e bloquear ou
Coração e mudança

De status no Face
E olhos que brilham
Com sorrisos de lua.
Fato: demos um reset
Na Via Láctea.

Agora, nossas noites dizem
“Bom dia” a todos os sóis!
Sem maquiagem nem fugas,
Vamos curtir e compartilhar
Verdade e vida

Mas só entre nós,
Com carne e emoções
Quentes.

– – –
Você pode ouvir o poema recitado aqui, por mim.